Páginas

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A bruxa

Era anos 20, ela morava numa fazenda no interior do Rio Grande do Sul, sua família trabalhava nas charqueadas. Sua mãe havia morrido doente, não se sabia a doença, afinal naquela época não havia médicos. A única coisa que havia eram curandeiros que de vez em quando passavam pela feira da cidade.
Era comum seu pai sair viajar para o Uruguai, onde vendia o charque. Minha avó naquela época tinha sete anos e sua irmã era bebê, como não tinha com quem deixar as duas filhas, resolveu ele deixar com uma velha muda, conhecida na cidade como bruxa, mas ele não acreditava muito nessas coisas.
Naquele dia, a qual ela nunca esqueceu, foi dormir chorando, pois tinha saudades da mãe que fazia pouco tempo que morreu. No meio do sono, acordou com barulhos estranhos, pareciam ruídos no porão. Desceu da cama e foi verificar como estava sua irmã.
Ficou surpresa ao verificar que sua irmã não estava no berço, e foi procurar a velha pela casa. Procurou em todo lugar, mas não encontrava, enquanto isso, os ruídos no porão começavam a aumentar. As janelas estavam abertas e estava ventando muito, ao ir fechar uma janela verificou que um dos cavalos da fazenda escapou e estava olhando profundamente em seus olhos. Ela fechou a janela.
Voltou pra cama com medo, mas os ruídos não a deixavam dormir. Criou coragem e decidiu ir até o porão verificar o que havia de errado.
Com um lampião na mão, ao descer as escadas viu a velha numa cadeira de balanço segurando no colo o que parecia ser uma criança. A velha a surpreendeu e falou: Garotinhas boazinhas tem que dormir quando chega a escuridão.
Ela ficou apavorada e subiu as escadas correndo, pensava até estar sonhando. Foi pra fora da casa, no banheiro que ficava aos fundos, reparou que dois cavalos estavam correndo ao redor da casa e pareciam assustados. Deixou cair o lampião. Haviam gatos encima da casa miando sem parar e foi correndo até o banheiro que estava escuro e lá se trancou até amanhecer o dia.
Passou alguns dias, seu pai retornou a casa e ela contou-lhe o que havia acontecido, ele, por sua vez não acreditou, mas havia prometido não chamar mais a velha para cuidar enquanto viajava.
Meses depois, ele precisou fazer outra viagem, mas dessa vez pediu a uma moça de mais ou menos uns vinte anos, filha de um amigo para cuidar das meninas. Os dois já eram noivos, no entanto ainda não moravam juntos. Minha avó parecia estar contente com a chegada de uma “nova mãe”.
Novamente aconteceu, estava no meio do sono, quando acordou com barulhos no porão. Chamava pelo nome da moça, e surpreendeu-se novamente ao verificar sua irmã não estava no berço. Foi até o porão e se deparou com a velha na mesma cadeira de balanço com sua irmã no colo. Mais uma vez ela disse: Garotinhas boazinhas tem que dormir quando chega a escuridão. Saiu correndo aos berros, novamente, em direção ao banheiro, mas dessa vez a porta estava emperrada e não conseguiu sair de dentro da casa. Ela se lembra de ter levado uma pancada na cabeça e ficar desacordada. Na manhã seguinte ela acorda. A moça está morta na sua cama com sua face desfigurada e a bebê parece estar bem. Dias depois ela recebe a notícia que seu pai morreu ao cair de um cavalo em um penhasco no Uruguai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário