A senhora Fineza era muito boa mulher, tão boa que, apesar de já ter
filhos seus, não rejeitou um enjeitadinho que lhe vieram pôr à porta e
que ela ouviu chorar quando estava deitada.
Vivia no Caminho do Tanque, na freguesia do Guadalupe e, como muitas mulheres do lugar, era lavadeira das senhoras da Vila.
Uma certa noite acordou e, achando muito claro e porque não tinha
relógio, pensou que estava perto de amanhecer. Levantou-se, pôs a trouxa
de roupa já lavada na carroça puxada por um cão e dirigiu-se para a
vila de Santa Cruz, para entregar às patroas a roupa que tinha lavado e
enxugado no dia anterior.
Foi andando depressa porque era a descer e estava fresco.
Ao chegar perto da igreja de S. Francisco, da qual hoje só existe a
torre e que ficava ao lado do cemitério, viu muita gente, toda vestida
de branco, a entrar para o templo.
Não conheceu ninguém, mas pensou para consigo: "Ainda não amanheceu e os senhores ainda estão a dormir. Vou ouvir a missa." Descarregou a trouxa para o cão descansar, pô-la no chão do lado de fora da porta e entrou.
A igreja estava cheia de gente.
Quando acabou a missa, as pessoas começaram a sair e a senhora Fineza também veio para fora. Arranjou a trouxa e dirigiu a palavra a um homem que viu ao pé da porta:
- Ajude-me a pôr a trouxa na carroça que ela é pesada.
Mas estranhamente ele respondeu:
- Peça a este que está ao meu lado. Ele tem mais força porque morreu
de repente. Eu não posso, morri de "trisela" e não tenho força nenhuma.
A tia Fineza arrepiou-se e não esperou por mais ajudas. Correu para a
casa dos patrões e ia pensando que aquelas pessoas que enchiam a igreja
por completo e que se encaminharam depois para o lado do cemitério eram
os mortos que tinham vindo assistir à Missa dos Finados
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